"Por que você não atendeu o telefone?", pergunta ela com um desejo louco de ter um cinto em mãos e me bater independente de qual for a resposta seguinte. "Eu não ouvi", disse eu ainda com a voz trêmula, mas aliviada por ter conseguido chegar ao quarto ainda viva.
É incrível como ela consegue não parar de falar por qualquer segundo que seja. Respiração não existe nessas horas. Fala até terminar de encaixar todas as palavras do dicionário num esporro só.
-Anda, menina, fala alguma coisa, não está vendo que eu estou falando com você?"
-EU NÃO OUVI O CELULAR TOCAR, JÁ DISSE"
-Não me responda, sua malcriada. Isso lá é jeito de se falar com sua mãe?
Mães .. são um grande paradoxo nesses momentos. Se contradizem sem nenhuma vergonha na cara. Acho que é a falta de oxigenação no cérebro que as deixa assim. É, porque nessas horas o oxigênio passa longe e elas se viram com o gás carbônico que vai saindo, e saindo, e saindo, e saindo, e saindo e .. de seus pulmões. Pulmões esses que impulsionam gritos ainda mais altos quando eu bato a porta do meu quarto e vou tentar me imaginar longe dali.
-MANHÊÊÊÊ, EU NÃO OUVI!
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