quarta-feira, 7 de outubro de 2009

FAIL.



Ela havia me dito:
- Desculpe, mas vai ficar com 9,5 mesmo...
- Mas por que me tirou meio ponto? - ja fui chorando, o original destruído pelos cupins ainda nas mãos - o que eu errei?

- Minha querida - ela continuava - está muito bom, mas não tem um algo a mais nele.


Algo a mais? Que algo a mais?
Estava perfeito, reconhecível e proporcional. Atendendo às especificações do trabalho.
Quanto aos dos outros trabalhos, ah... se tinha um algo a mais, bah, que fizesse algo a mais com eles (uma exposição, vendia cópias por alguns milhares, etc.) enfim...


Não adiantou de nada minhas reclamações.
Não valeu de nada meu trabalho, nada, nada.

Levei então tudo que eu tinha feito, a original destruida, a cópia, a fôrma.
Nem ela, nem aquele ateliê imundo mereciam ter como acervo meu trabalho.


Carreguei o fardo pelo espinhoso caminho de volta à casa.
Encontrei um local mais quieto, depositei-o vagarosamente numa mesa.
Fitei os olhos, cegos, cinzas, serenos, ecoou então na minha cabeça - perdoa-me, falhei.
Falhei, falhei, FALHEI!!!
Gritei.
As lágrimas fugindo dos meus olhos vermelhos, escorrendo, caindo, escorrendo, perseguindo os olhos cinzas dele.
Aproveitei-as para alisar partes que estavam moles.
Beijei...
Beijei-lhe os lábios frios calma e suavemente, as gotas fugindo, os braços doendo, tremendo. Perdoa, me perdoa, eu falhei.
FALHEI.

Talvez eu não tenha atingido mesmo a perfeição, e talvez, mesmo que eu a atinja, ainda me faltará meio ponto.

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