terça-feira, 9 de setembro de 2008

2 Paulo. 2 Polly = Nada

Nos intestinos do Teatrão, eu e os velhos a andar. Michelotto à frente, Queiroz mais atrás. Eu calada, mais atrás ainda.

Estranho como os dois Paulos se olhavam.Finalmente chegamos à sala. Todos os alunos estavam lá, a monitora também...

- Oi querida! - exclamou Polly - esse é seu avô?

- Oi Polly... - eu respondi - não, é meu pai, Paulo.

- Ele... - a bailarina se interrompeu, tapando os lábios com a ponta dos dedos - seja bem vindo, seu Paulo.

Meu pai apenas meneou a cabeça, sério. O outro Paulo estava extremamente calado. Incrivel e estranhamente calado. Não calmo.

Todos os meus colegas me faziam a mesma pergunta:

- É seu avô?

Ficava séria, tão séria como há dez anos atrás. Que ódio, que pai velho... e ele tão mais velho hoje.

A Polly bailarina seguiu com os alongamentos joviais. E mais jovial que o Paulo dos 64, era o Paulo dos 78 anos, meu velho pai jovial. Que pai velho! Dois horríveis velhinhos, adoráveis Paulos, terrivelmente calados, falsamente amigáveis, a seguir os exercícios, com seus olhares infinitos.

Entre um exercício e outro, cheguei em Polly, cochichei:

- Vou no banheiro, já volto.

Olho pra trás, vejo os dois Paulos também a cochichar. Malditos! Desço pelo elevador, imaginando que assunto seria.

Revoluções?

Coisas da ditadura?

Ah, então seria Michelotto o motivo real da volta do meu velho?

Ou Michelotto tava dedurando sobre minhas loucuras daquele dia do nada?

Saí do elevador correndo, corredor, porta , porta, vaso...

Ahhhh, arriei as calças, sentei, mijei.

Olhei o relógio. Seis horas. Merda... hora de ir pra casa!

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