Nos intestinos do Teatrão, eu e os velhos a andar. Michelotto à frente, Queiroz mais atrás. Eu calada, mais atrás ainda.
Estranho como os dois Paulos se olhavam.Finalmente chegamos à sala. Todos os alunos estavam lá, a monitora também...
- Oi querida! - exclamou Polly - esse é seu avô?
- Oi Polly... - eu respondi - não, é meu pai, Paulo.
- Ele... - a bailarina se interrompeu, tapando os lábios com a ponta dos dedos - seja bem vindo, seu Paulo.
Meu pai apenas meneou a cabeça, sério. O outro Paulo estava extremamente calado. Incrivel e estranhamente calado. Não calmo.
Todos os meus colegas me faziam a mesma pergunta:
- É seu avô?
Ficava séria, tão séria como há dez anos atrás. Que ódio, que pai velho... e ele tão mais velho hoje.
A Polly bailarina seguiu com os alongamentos joviais. E mais jovial que o Paulo dos 64, era o Paulo dos 78 anos, meu velho pai jovial. Que pai velho! Dois horríveis velhinhos, adoráveis Paulos, terrivelmente calados, falsamente amigáveis, a seguir os exercícios, com seus olhares infinitos.
Entre um exercício e outro, cheguei em Polly, cochichei:
- Vou no banheiro, já volto.
Olho pra trás, vejo os dois Paulos também a cochichar. Malditos! Desço pelo elevador, imaginando que assunto seria.
Revoluções?
Coisas da ditadura?
Ah, então seria Michelotto o motivo real da volta do meu velho?
Ou Michelotto tava dedurando sobre minhas loucuras daquele dia do nada?
Saí do elevador correndo, corredor, porta , porta, vaso...
Ahhhh, arriei as calças, sentei, mijei.
Olhei o relógio. Seis horas. Merda... hora de ir pra casa!
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