segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Capitulo Um

Papai

“Qual o seu problema?”, “Você mudou tanto!”, “Você está cada dia mais chata!”, “Acha que sabe tudo é!”. Escuto todo dia. Meu pai é um cara muito bem sucedido. Conseguiu muita coisa com trabalho duro. Vive me dizendo que a vida não é fácil, às vezes acho que vou acabar falando isso para os meus filhos também. Parece que quando você está pronto para ter um filho, faz um curso básico do que dizer, fazer ou se comportar. Alguns faltam a essas aulas, mas outros comparecem a todas sem faltar uma se quer. Acredito que meu pai faltou uma ou duas.
Cuecas dobradas, arrumadas em fileiras milimetricamente emparelhadas, as blusas, organizadas por cor e estilo. Calça em outro lugar, sapatos, engraxados 60 vezes, com o velho cuspisinho no final. Quando vai comer melancia, os caroços têm que estar organizadas no prato por ordem de tamanho, além arrumar todas as panelas, potes, armários, etc. Esse é meu pai exageradamente organizado. Ele não consegue ir a uma loja e ver uma prateleira bagunçada, parece que o corpo dele é feito de homenzinhos minúsculos prontos a arrumar o tempo todo. E se não estão arrumando, estão mexendo em alguma coisa...
Meu pai é iperativo também, ele simplesmente não consegue ficar quieto de maneira alguma. Não é de falar muito, mas se mexe que é uma beleza. Até na hora de dormir, passa um tempão se mexendo devagarzinho até cansar e dormir. Deve ser por isso que ele reclama tanto de dor no corpo. Tem vezes que chega ser hilário. No aniversário passado dele, eu dei um carrinho todo desmontado, nossa! Ele passou a tarde inteira tentando montar, e não tirava o sorriso do rosto, foi tão lindo, acho que nesse momento ele voltou a ser criança de verdade. Apesar de que muitas vezes ele parece uma.

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